Na Eternidade
Por Helio Castroneves – Há 20 anos o automobilismo perdia um tricampeão mundial de Fórmula 1 de maneira muito trágica, mas para a geração de pilotos da qual eu faço parte, o falecimento do Ayrton Senna representou algo muito maior do que a inexorável certeza de que, um dia, todos nós daqui partiremos. Ayrton não era somente um grande, fenomenal piloto. Ele meio que carregava nas costas a responsabilidade de ser o grande exemplo para jovens no mundo todo que se inspiravam nele em busca do sonho de sucesso no automobilismo.
O Brasil, na verdade, foi agraciado com gigantes do automobilismo que nasceram muito próximos uns dos outros. Que outro país no cenário da Fórmula 1 conseguiu quase que na seqüência ter três campeões mundiais? Os anos 70 foram marcados pelos títulos de Emerson Fittipaldi e logo em seguida foi a vez do Nelson Piquet. Claro que todos nós tínhamos também esses dois grandes campeões como referências, mas o fato de o Ayrton ser o mais novo deles acabou coincidindo com a minha geração.
Quando eu nasci, em 1975, o Emerson já era bicampeão mundial. Em 1987, quando ganhei meu primeiro kart e comecei a treinar, o Nelson estava conquistando o seu terceiro título mundial. Mas eu já estava competindo para valer quando o Ayrton foi campeão em 1988. No ano do bi – 1990 – eu já era piloto graduado de kart e no seguinte, quando ele faturou o tricampeonato, estava me despedindo do kart para começar no ano seguinte minha carreira nos monopostos.
Nunca vou esquecer o dia em que fui correr na fazenda do Ayrton em Tatuí, interior de São Paulo. Isso foi em 1990. Ele havia construído uma pista de kart e convidou alguns pilotos do tempo dele e a molecada que corria naquela época, Foi demais e, confesso a vocês, foi algo que me marcou profundamente. Imaginem vocês como foi aquilo para um garoto com seus 15 anos, ter a oportunidade de se encontrar com o ídolo e disputar uma corrida com ele? Gente, isso vai ficar no meu coração para sempre.
Quando o Ayrton morreu, eu já era piloto de Fórmula 3 e foi um choque. Algumas pessoas chegaram a sugerir que eu não continuasse com a minha carreira, que procurasse algo sem os perigos do automobilismo. Mas como os exemplos do Ayrton sempre calaram muito fortes no meu coração e na minha mente, também foram valiosos para seguir em frente. Ele marcou sua carreira pela dedicação, coragem de enfrentar todos os obstáculos e força de vontade para seguir em frente.
Deus quis que o Ayrton fosse para junto Dele mais cedo. São essas coisas que a gente não entende, mas como disse no meu livro, Deus tem sempre um plano. E o que ficou para mim foi um modelo de profissional, de piloto, de ser humano. Então, posso dizer que o Ayrton está no coração de cada piloto das diversas gerações que o tiveram e o têm como referência. E essa referência é tão forte que é como se ele estivesse vivo. Pode não estar vivo na forma que nós conhecemos, mas sem dúvida está vivo na Eternidade.
Fonte:
Americo Teixeira Junior
Nenhum comentário:
Postar um comentário