Por Castilho de Andrade
McLaren e Ferrari travam uma das mais interessantes disputas dos últimos anos na Fórmula 1. Muito melhor do que os duelos que Michael Schumacher travou com a Renault e acabou derrotado duas vezes seguidas nos seus dois últimos anos de carreira. Em primeiro lugar, nenhum dos quatro pilotos envolvidos na luta pelo título de 2007 tem o poder de desequilibrar os adversários como Schummy. Depois, o saboroso caso de espionagem na Ferrari acabou se transformando em um complicado elemento de final imprevisível.
Na pista, nas oito corridas restantes, ninguém pode afirmar com segurança quem será o campeão. Qualquer um dos quatro pode levar. Kimi Räikkönen, que estava apagado e distante, de repente, com duas vitórias consecutivas, tornou-se outra vez um forte candidato. Felipe Massa, que caiu para o quarto lugar na classificação, tem todas as chances de dar a volta por cima. Se o inglês Lewis Hamilton tem muita sorte – o que, normalmente, acompanha os campeões – Massa pode acabar a qualquer momento com a onda de azar que o desclassificou em Montreal e impediu que largasse em condições normais na Inglaterra. Andando como ele andou, após sair do Box, Massa, seguramente, subiria ao pódio se o motor da Ferrari não tivesse apagado no grid de Silverstone. E como ele mesmo afirmou, poderia ter sido o vencedor no lugar de Räikkönen.
Mas a vantagem de Hamilton cai pouco a pouco. E a distância entre os quatro primeiros colocados é cada vez menor, induzindo a um duro e sensacional tira-teima nas corridas finais do campeonato. E é sempre conveniente lembrar que dos quatro, só Hamilton não conhece os traçados decisivos de Xangai, Suzuka e Interlagos. Tudo bem que o inglês venceu em Montreal, pista que também não conhecia. Mas, normalmente, quem tem um conhecimento melhor do traçado leva alguma vantagem. Com 12 pontos de vantagem sobre Alonso, 18 sobre Räikkönen e 19 sobre Massa, não bastará a Hamilton continuar subindo no pódio para ganhar o título. Ele terá que brigar por mais vitórias.
O caso de espionagem na Ferrari terá implicações morais e psicológicas, mas não deverá alterar o quadro da disputa. A McLaren se antecipou e divulgou um comunicado oficial, negando que tenha utilizado qualquer detalhe técnico da Ferrari em seus carros ou no trabalho da equipe.
Entretanto isso não é suficiente, já que o principal envolvido da equipe inglesa é seu projetista-chefe Mike Coughlan. Mesmo que ele não tenha utilizado as informações que, segundo a Ferrari, foram transmitidas pelo mecânico Nigel Stepney, a McLaren teve nas mãos material sigiloso de sua principal adversária, conhecendo seus pontos fortes e fracos. O caso chegará esta semana à Corte inglesa e os acusados já estão procurando se eximir de qualquer responsabilidade. Embora seja responsável apenas por questões desportivas e normativas, a acusação de espionagem é um grande enrosco para a Federação Internacional de Automobilismo. Digamos que a McLaren acabe mesmo vencendo os Mundiais de Pilotos e Construtores. É pouco provável, neste acaso, que a Ferrari aceite placidamente a vitória da escuderia inglesa. Tendo ou não razão, a espionagem será um argumento forte para contestar uma eventual vitória da McLaren/Mercedes. Até agora, dirigentes das equipes e os próprios pilotos demonstram cautela e evitam o assunto. Mas não será assim, certamente, após o Mundial.
Castilho de Andrade é jornalista especializado em automobilismo e Diretor de Imprensa do GP Brasil de Fórmula 1. Sua coluna é publicada às quartas-feiras no site oficial do evento.
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