Por Castilho de Andrade
A McLaren está irritada com a Federação Internacional de Automobilismo. A equipe terá que dar explicações aos membros do Conselho Mundial, no próximo dia 26 de julho, sobre o rumoroso caso de espionagem envolvendo seu projetista-chefe Mike Coughlan que teria recebido informações sigilosas sobre a concorrente Ferrari. A McLaren não tem motivos para reclamar. O papel da FIA, embora seja uma entidade normativa para fins esportivos, é também zelar pelo prestígio e correção de sua principal categoria, a Fórmula 1. E embora Coughlan esteja suspenso e a McLaren tenha aberto suas portas para mostrar que não se aproveitou dos dados ferraristas, o assunto ainda está longe de acabar.
Desde que comecei a acompanhar a Fórmula 1, no começo da década de 70, logo após a primeira vitória de Émerson Fittipaldi, nunca tinha visto uma história tão delicada sobre tráfico de informações como esta envolvendo a McLaren e a Ferrari. Principalmente porque está ocorrendo exatamente com as duas únicas equipes que têm chances de vencer os Mundiais de Pilotos e Construtores.
Ainda na década de 70, um conhecido jornalista italiano foi expulso em um teste na Europa porque Colin Chapman, o mítico diretor da Lotus, julgou que ele teria divulgado detalhes até então sigilosos de um de seus carros. O jornalista, na verdade, com anos de experiência, simplesmente desenvolveu em um infográfico o que ele tinha visto na pista, com uma surpreendente riqueza de detalhes que levantou as suspeitas de Chapman. Mesmo assim, naquele ano, 1978, a Lotus foi campeã mundial com Mario Andretti. Foi o último título de pilotos e construtores da lendária escuderia.
No máximo, durante muitos anos, as equipes só camuflavam suas novidades nos testes de pré-temporada para evitar que fossem observadas pelas adversárias. O contrabando de informações nunca fez parte, até onde se sabe, do universo da Fórmula 1. O mecânico Nigel Stepney e o projetista Coughlan romperam uma longa tradição de respeito entre as escuderias com conseqüências ainda imprevisíveis para o futuro. A McLaren julgava que tinha liquidado a história ao abrir suas portas e garantir que nunca fez uso de informações da Ferrari. Cautelosa, a Ferrari também evitou partir para o ataque em um momento em que estava em grande desvantagem no campeonato. Agora recuperou-se com as duas vitórias de Kimi Räikkönen e está muito mais preocupada em encostar em Lewis Hamilton do que nos tribunais da FIA. Mas a entidade tem um nome a zelar e também não quer deixar uma janela aberta para troca de acusações no final da temporada. É melhor resolver o caso agora e permitir que o Mundial chegue ao final sem qualquer sombra de suspeita. Comprovando-se a responsabilidade de Stepney e Coughlan só há uma saída possível: os dois devem ser banidos da competição.
Castilho de Andrade é jornalista especializado em automobilismo e Diretor de Imprensa do GP Brasil de Fórmula 1. Sua coluna é publicada às quartas-feiras no site oficial do evento.
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