Por Castilho de Andrade
As grandes equipes da Fórmula 1 devem estar analisando com muito cuidado o fenômeno Lewis Hamilton. Não apenas para descobrir como induzi-lo ao erro mas, sobretudo, como ele acabou sendo forjado, a ferro e fogo, nas assépticas oficinas da McLaren. E a possível conclusão poderá provocar um novo estágio na história da categoria, a dos pilotos de laboratório.
Não é segredo que montadoras como a Renault e a BMW, entre outras, desenvolvem projetos de formação de pilotos, conduzindo-os nas categorias de acesso à Fórmula 1. Diversos pilotos brasileiros já passaram por experiências do gênero como Lucas Di Grassi, por exemplo, no Renault Driver Development Program. Grassi corre hoje na GP2, buscando no futuro uma vaga na F-1. Outros pilotos ficaram pelo caminho. Mas o caso de Hamilton é distinto. Ele foi ‘adotado’ muito cedo, aos nove anos, quando ainda engatinhava no kart. E através de treinos, testes e corridas e um longo trabalho pedagógico em simuladores e similares Hamilton ganhou a aptidão necessária para dirigir uma McLaren/Mercedes e surpreender os adversários e o público do automobilismo internacional.
Lacônico, Ron Dennis, diretor da McLaren, não tem interesse em revelar os segredos da formação de Hamilton. Diria que é um assunto tão sigiloso quanto o que envolve a construção de novos carros e soluções aerodinâmicas. De qualquer forma, não há dúvida de que outras equipes já cogitam trilhar o mesmo caminho. Como grandes equipes de futebol e basquete da Europa que garimpam novos talentos ainda na infância, possivelmente a Fórmula 1 passará a fazer o mesmo daqui para a frente. É um processo demorado mas, ao que tudo indica, irreversível.
Isso trará grandes mudanças nas categorias de acesso nos próximos dez anos. A Fórmula 3, por exemplo, tanto em sua versão inglesa, alemã ou a européia, não será mais o veículo primordial para revelar pilotos mas para reconfirmá-los. Na GP2, que passará a ser uma categoria mais competitiva, estarão na disputa apenas aqueles pilotos que passaram pelo filtro das equipes.
Outras categorias terão que rever seus objetivos finais. Os demais pilotos que não passarem por este estágio estarão condicionados à desconfortável situação de coadjuvantes, com chances remotas de sucesso.
Resta saber onde e como as equipes passarão a buscar seus futuros pilotos. O Mundial de Kart, por exemplo, passará a ser visto com outros olhos. Foi em uma dessas competições, em Portugal, que Lewis Hamilton deu os primeiros indícios de que iria longe. O kartismo brasileiro, em que pese o pequeno número de títulos internacionais, sempre foi consistente. E graças a ele formamos nossa invejável armada de pilotos na Fórmula 1. É o momento para um novo investimento esportivo na categoria, discutindo regras e modelos de kart mais adequados para se antecipar às necessidades das grandes equipes. Do kart à Fórmula 1 há uma grande distância. Mas o caminho já estará em breve bem mais curto entre os kartódromos e os simuladores das equipes da F-1.
Castilho de Andrade é jornalista especializado em automobilismo e Diretor de Imprensa do GP Brasil de Fórmula 1. Sua coluna é publicada às quartas-feiras no site oficial do evento.
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