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quarta-feira, janeiro 10, 2007

* MERCADO: QUE NEGÓCIO DA CHINA É ESSE?

Texto: Marcelo Goto e Mariana Carnicelli
Fotos: Reprodução

Com a recessão do mercado automotivo mundial, apenas um negócio da China seria capaz de aumentar as vendas de carros no mundo. E foi o que aconteceu. O mercado automotivo chinês, que hoje tem 400 milhões de consumidores, rompeu a barreira de um milhão de unidades vendidas no ano passado, o que o levou a um lugar de destaque no cenário mundial. Em 2003, nem mesmo a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que afetou o país no primeiro semestre do ano, abateu o fôlego do país do dragão.

A indústria chinesa avançou nos últimos dois ou três anos, com as parcerias firmadas entre os fabricantes locais e as gigantes multinacionais do setor automotivo. A abertura do mercado deu-se através de acordos com normas a serem cumpridas. A maioria dos carros vendidos no mercado chinês ainda vem desmontado (kits CKD), mas o índice de nacionalização das peças deve aumentar gradativamente.
A China tem uma frota superior a 20 milhões de veículos e como sua indústria automobilística é recente, grande parte da frota circulante é importada. Em 2002, o país importou mais de 70 mil veículos, entre eles, carros fabricados em solo brasileiro: Palio, Gol, Polo, Blazer, Celta e Corsa. No mesmo ano, a Volkswagen do Brasil fechou um acordo com o país que prevê a exportação de cerca de 230 mil kits de CKD do Gol em cinco anos. Já a GM do Brasil tem um contrato para a exportação de US$ 1,4 bilhão para a China nos próximos quatro anos (entre Corsa, S-10 e Blazer).

Segundo informações da National Bureau of Statistics, em outubro de 2003 a produção de veículos de passeio na China (168 mil unidades) cresceu 52% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de janeiro a setembro de 2003, foram fabricados 1.454.522 veículos, cerca de 350 mil unidades a mais que em todo ano de 2002 (1,1 milhão de veículos). O número de vendas também surpreende, atingindo 1,34 milhão de unidades, número que representa um crescimento de 69% em relação a 2002. Estima-se que até o fim do ano, 1,9 milhão de automóveis sejam vendidos no país, excedendo em 500 mil unidades as vendas do ano passado.
Mas o clima de euforia inspira cuidado. Analistas já mandaram o alerta para um possível excedente de produção, tendo como base os investimentos futuros já anunciados. A China tem recebido investimentos maciços em todos os setores, que estão multiplicando a produção e uma hora vão levar à ociosidade. No primeiro semestre de 2003, a produção no país cresceu mais de 30% e o consumo, apenas 10%.
O desemprego no país é alarmante. Em cinco anos, mais de 45 mil pessoas perderam o emprego na China. A visão de um país crescendo em proporções geométricas muitas vezes faz sombra a uma outra realidade, não tão gloriosa. Cerca de 57% do Produto Interno Bruto (PIB) da China vem do leste do país, a parte rica e desenvolvida. 26% do PIB provém da área central e apenas 17% é proveniente do oeste pobre, que não tem acesso nem mesmo à luz elétrica.

A Volkswagen, líder de vendas no mercado chinês no primeiro semestre com participação de mercado de 38%, planeja dobrar a capacidade de suas fábricas em cinco anos, atingindo a capacidade produtiva de 1,6 milhão de unidades ao ano com o investimento de US$ 6,8 bilhões. Hoje, o mercado chinês é o segundo maior mercado consumidor da montadora alemã, perdendo apenas para seu país de origem.
Plano parecido tem a norte-americana General Motors, que pretende ampliar em 50% a capacidade de produção de suas fábricas chinesas nos próximos três anos. A montadora tem duas plantas no país, uma em Xangai e a outra em Guangxi. Das duas unidades hoje saem cerca de 500 mil veículos por ano. Se tudo der certo, em 2006, a capacidade de produção chegará a 750 mil unidades ao ano.

A Ford também quer aproveitar a vitalidade do dragão chinês e anunciou a pretensão de ampliar sua capacidade produtiva. A empresa, que hoje produz 50 mil unidades por ano na China quer chegar as 150 mil, apostando no aumento das vendas no país. A montadora norte-americana começou suas operações na China produzindo o Mondeo e o Fiesta, mas pretende aumentar a gama para crescer junto com o mercado local.
A Ferrari, que em outubro fez dez anos na China, comemorou a data com a maior concentração de modelos de luxo na Praça Tianamen, conhecida como Praça da Paz Celestial, em Beijing. O herdeiro da marca, que estava presente na comemoração está muito confiante no bom desempenho da marca em 2003. Ferrari espera que as vendas desse ano superem em 12 unidades o total comercializado em 2002, chegando a 30 veículos.

O ESTILO PITORESCO DOS CHINESES

Um trecho do Hino da Revolução, a canção oficial chinesa, diz que "o leste é vermelho". Mas tente achar um carro com esta cor nas ruas da China. Para as montadoras, criar e produzir veículos para o povo chinês - o mercado que mais cresce no mundo - é uma tarefa complicada, tamanha é a peculiaridade da sociedade local. Para se ter uma idéia, reza o costume chinês que o vermelho deve ser usado apenas em ocasiões especiais, como cerimônias de casamento. Por conta disso é muito raro ver um carro vermelho em produção.
Até pouco tempo atrás, metade da produção de automóveis e vans da Buick - marca pertencente à General Motors - era de modelos de cor preta, enquanto apenas 1% ou 2% dos carros que saem da linha de produção são vermelhos. Para os chineses, o preto representa prestígio e prosperidade. A única exceção à regra fica por conta da frota de táxis de Beijing, que é predominantemente vermelha.

Exceto os mais abastados, que podem se dar ao luxo de comprar os caros modelos importados, a maioria esmagadora dos consumidores chineses tem poucas opções de carros novos. Um exemplo da falta de opção é o nosso conhecido Santana, que lota as avenidas de Shangai. O antigo sedã da Volkswagen deixou de ser vendido na Alemanha há cerca de 20 anos, mas continua sendo fabricado e vendido em solo chinês.

A expansão do mercado chinês é tamanha que ele já superou a Alemanha e, agora, é o terceiro maior do mundo. Por isso, as montadoras estão se adequando às preferências dos chineses. E isso vai muito além da cor vermelha. Os desenhistas que derem a devida importância à rica mitologia chinesa, terão a aclamação do consumidor chinês, filosofa James Shyr, diretor do setor de Design da GM China.

O estúdio de design PATAC, de Shangai, é um dos que levam a sério esse conceito e o protótipo Kumpeng CAV, desenvolvido pela empresa, é um exemplo disso. O modelo foi baseado em um lendário peixe chinês que se transforma em uma ave. Os conceitos do Feng Shui - arte de harmonizar ambientes - também estão sendo usados para criar carros.

Ao contrário do mercado americano, os utilitários esportivos não são bem vistos pelos chineses. Eles associam esse tipo de veículo aos carros militares e modelos agrícolas, que dominaram as ruas do país na década de 70. A preferência nacional é o tradicional sedã três volumes.

A rígida política de controle de natalidade imposta pelo governo chinês - que limita as famílias a terem apenas um herdeiro - também tem influenciado a indústria automobilística local. Uma de suas conseqüências é a exigência cada vez maior de conforto e espaço no banco traseiro.

James Shyr, diretor do setor de Design da GM China, tem uma explicação para todas estas peculiaridades: "A China foi um país pobre por um longo período. Quando as pessoas compram um carro, elas desejam ser vistas e admiradas pelo seu sucesso e querem que o povo veja o fruto do seu esforço".
Fonte: CARSALE

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